terça-feira, 11 de junho de 2013

FIM DE CICLO AZUL E BRANCO PARA VÍTOR PEREIRA

Confirmada que está a saída do comando técnico do FC Porto, do treinador Vítor Pereira, parece-me oportuno reflectir um pouco naquilo que foram as suas duas épocas dedicadas à exigente orientação da mais prestigiada equipa do futebol nacional.

Vítor Pereira começou por herdar a época de sonho do seu antecessor, André Villas Boas, de quem era adjunto, aceitando, com uma forte dose de ambição e confiança nas suas competências, o repto que lhe foi dirigido pelo Presidente Pinto da Costa.

O jovem técnico passou então a fase mais complicada da sua curta carreira, vendo-se obrigado a ter de gerir com muita paciência, alguma sensibilidade e algum tacto, o descontentamento de um conjunto de atletas que reivindicaram para si o estatuto de vedetas, de intocáveis, de insubstituíveis ou até mesmo de estrelas cujo brilho merecia resplandecer noutros firmamentos mais apetitosos, que acabaram por prejudicar o normal desenvolvimento dos trabalhos, com reflexos negativos evidentes na prestação competitiva da equipa, que acabaria por custar, nessa primeira época, as eliminações prematuras na Champions League e na Taça de Portugal, frente a adversários perfeitamente acessíveis.

A sábia e oportuna limpeza de balneário, nesse mercado de Inverno, foi o tonificador de que o técnico  necessitava para salvar o que ainda era possível, conseguindo unificar a equipa, restituir-lhe alguma qualidade e consistência e partir para uma ponta final de campeonato irresistível e vencedora.

Esta época, já com um plantel perfeitamente estabilizado e sintonizado com as suas ideias, o FC Porto apresentou-se mais confiante, ambicioso e eficaz.

O técnico explorou até à exaustão o seu conceito de posse e circulação de bola, incutiu na equipa o domínio do jogo e do adversário, a pressão alta para maniatar os adversários e a verdade é que o FC Porto conseguiu exibir-se durante grande parte da época num plano muito bom, a prometer grandes conquistas.

Porém, subitamente, a equipa começou a perder eficácia, a perder consistência, frescura física e com elas alguma confiança. Continuava a ser uma equipa de posse, a privilegiar a circulação da bola, mas demasiadamente lenta, inconsequente e pouco eficaz. Os castigos e as lesões, o desgaste físico e emocional, começaram a fazer mossa, e de repente a equipa viu-se afastada da Liga dos Campões, eliminada da Taça de Portugal e ultrapassa na liderança do Campeonato nacional, ao ponto de se deixar atrasar de forma a não depender apenas de si próprio, em termos pontuais, para renovar o título.

Tudo parecia irremediavelmente perdido a apenas 4 jornadas do fim.

Foi aqui que surgiu um Vítor Pereira ousado, corajoso, decidido,  crente no seu trabalho  e confiante nos seus jogadores, sempre com um discurso motivador, capaz de contagiar e espicaçar a auto-estima dos seus atletas, nunca atirando a toalha ao chão.

É verdade que foi feliz, mas mereceu inteiramente a vitória final, num sprint empolgante que fez vibrar toda a não portista.





















Vítor Pereira, tal como quase todos os treinadores que por cá passaram, nunca conseguiu o consenso de toda a massa adepta portista, mas é justo dizer, na hora da sua saída, que foi sempre um homem respeitado pelo seu carácter, pelas suas qualidades humanas, pelo seu profissionalismo e sobretudo pelo amor ao clube que nunca escondeu. Tem como todos defeitos e virtudes. Não conseguiu para o futebol da equipa o salto qualitativo indispensável para triunfar na Europa. 

Desta vez teve o ponta-de-lança que lhe faltou na primeira época, mas faltou-lhe a espontaneidade de Hulk. Não conseguiu dos seus médios a capacidade de chegarem com mais frequência às zonas de finalização (especialmente Fernando e Moutinho) e muito menos a exploração eficaz dos remates de meia-distância e o aproveitamento das bolas paradas, ainda que reconheça a Fernando uma ligeira evolução na sua ousadia ofensiva. O último passe e a ineficácia no remate continuam a ser os calcanhares de Aquiles deste sistema.

Sai com um currículo enriquecido, depois de 93 jogos com apenas 12 derrotas, com essa marca magnífica de ter ganho o campeonato desta época invicto, e apenas com uma derrota no conjunto das duas épocas. Talvez merecesse sair para um campeonato competitivamente mais evoluído, mas temos que reconhecer que três milhões de euros por temporada, não é de recusar, mesmo tendo de ir treinar para a Arábia Saudita!

Por tudo isto, boa sorte Vítor Pereira. 

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